Não tá tudo bem. E tudo bem

Você já parou para pensar quantas vezes desperdiçamos a oportunidade de dizer que não tá tudo bem. Quantas vezes essa pergunta chega até nós por pessoas que realmente estão interessadas em saber o que a gente está sentindo, quais as nossas angústias e frustrações, e a gente simplesmente diz sim por achar que essa é a resposta socialmente mais aceitável.

Com essa atitude, reforçamos a ideia de que o “Tá tudo bem?” é apenas uma pergunta retórica, sem sentido. Uma convenção social. E eu nem estou defendendo que a gente deva se abrir para todo mundo na primeira oportunidade que essa pergunta chegar até nós. É muito importante que a gente treine a nossa percepção e nosso discernimento para entender o que deve ser dito, e quem merece ser o receptor de tanta informação íntima e delicada. Em muitos casos, é recomendável que ela só seja dividida com um profissional.

Mas a resposta para o “Tá tudo bem?” pode ser um pedido de socorro, uma oportunidade de deixarmos claro que nem tudo está bem, e que precisamos de ajudar para mudar essa situação. É uma oportunidade de tirar a máscara de super-herói que a gente insiste em vestir de vez em quando, e mostrar que também temos nossas dores, nossos medos, e que uma mão estendida pode ser importante nesse processo de retomada das nossas vidas.

Em tempos de pandemia, crise política e demonstrações claras de intolerância, racismo e desvalorização da vida humana por parte significativa da nossa sociedade, é normal que o medo nos consuma e que a resposta para essa pergunta seja um “Não”. É compreensível que estejamos ansiosos e apreensivos demais para ver um “tudo bem” no fim do túnel. Não há nada errado em dizer que nem tudo está certo. Você pode não estar bem, e tá tudo bem.

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